quarta-feira, 31 de outubro de 2012

MESTRE CANDEIA

Muitos conhecem a luta do mestre Antônio Candeia Filho contra a descaracterização das escolas de samba que durante a década de 70 tomou conta dos desfiles e os sambista viam o samba se tornar um mero coadjuvante diante do gigantismo e dos novos valores que passavam a reger os desfiles durante o carnaval. Descontentes, alguns sambistas de prestígio dentro da Portela, entre eles, Candeia, chegaram a redigir uma carta à direção da escola propondo mudanças e sugestões. Transcrevo na íntegra o texto de tal carta que encontrei no blog "Só Candeia", um documento de grande valor para a história do nosso samba e que mostra a preocupação com os rumos que o samba tomava naquela época: LEIA A CARTA AQUI A carta acima não teve sequer resposta do diretor Carlos Teixeira Martins, ou Carlinhos Maracanã e, infelizmente, o final dessa história todo mundo conhece: O carnaval aos poucos foi se tornando um produto cada vez mais influenciada por grupos que pouco tinham a ver com as escolas e o samba perdeu sua tradição, tornando-se um mero acompanhante nos deslumbrantes e arrojados desfiles, em que a figura do carnavalesco tornava-se mais importante que a dos compositores. Candeia, em um trecho do livro que escreveu em parceria com Isnard Araújo, institulado "Escola de Samba: árvore que esqueceu a raiz", publicado em 1978: "Os verdadeiros sambistas, ou seja, Mestre-Sala e Porta-Bandeira, os passistas, os ritmistas, os compositores, as baianas, os artistas natos de barracão, são, hoje em dia, colocados em segundo plano em detrimento de artistas de telenovelas, dos chamados ‘carnavalescos’, ou seja, artistas plásticos, cenógrafos, coreógrafos e figurinistas profissionais. Ao substituirmos os valores autênticos das Escolas de Samba, nós estamos matando a arte-popular brasileira, que vai sendo desta maneira aviltada e desmoralizada no seu meio-ambiente, pois Escola de samba tem sua cultura própria com raízes no afro-brasileiro." Mas nem tudo estava perdido. Candeia, já decepcionado com sua escola do coração, recebeu de um amigo o pedido de ajuda na compra de instrumentos para um bloco, intitulado Quilombo dos Palmares, que pretendia fundar em um terreno baldio, na Rua Pinhará, no bairro de Rocha Miranda. Foi aí que o que era uma simples ideia começou a se tornar realidade: a criação de uma nova escola de samba, livre das imposições que tomavam conta do carnaval, feita por pessoas que tinham na luta pela preservação do samba um dos seus maiores valores. Nascia então, no dia 08 de dezembro de 1975 (dia de Nossa Senhora da Conceição) o "Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo", ou simplesmente, o GRANES Quilombo.
As cores da escola foram escolhidas pelo próprio candeia: o dourado, que representava o ouro e homenageava Oxum (que no sincretismo religioso é representada por Nossa Senhora da Conceição), o branco, que simbolizava a paz e a pureza e o lilás, que nas palavras de Candeia, era inspirado na beleza de uma flor e representava a África. Seu símbolo, uma palmeira, em homenagem ao mais conhecido quilombo, o Quilombo de Palmares. Entre seus fundadores destacavam-se Waldir 59, (parceiro de Candeia em diversos sambas enredo feitos para a Portela), Paulinho da Viola, Wilson Moreira, Élton Medeiros, Monarco, os jornalistas Lena Frias e Juarez Barroso, entre outros. Na época, o recém-formado estudante de Letras, João Baptista Vargens, após um dos inúmeros encontros promovidos por Candeia para articulação da escola em dezembro de 1975, escreveu um manifesto de fundação, que exprimia de forma incisiva os propósitos e ideais da nova escola que nascia.

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