segunda-feira, 9 de julho de 2012

MUMUZINHO



O apelido veio por causa do sambista e humorista Mussum — mas indiretamente. Explica-se: era o irmão mais velho de Márcio, Marcelo, quem de fato se parecia com o integrante dos Trapalhões e que, por isso, era chamado de Mumu. Pela lei natural da transmissão de apelidos, o irmão menor virou... Mumuzinho.— E acredita que hoje ninguém mais chama o Marcelo de Mumu? — protesta Márcio da Costa Batista, que, como Mumuzinho, é hoje um dos mais conhecidos nomes novos do samba no Rio."Dom de sonhar", seu primeiro álbum, que a Universal Music está lançando neste mês, é o primeiro grande passo desse garoto pobre de Magalhães Bastos, Zona Oeste do Rio, que sonhava viver de arte.— Mumuzinho é um artista talentoso, que certamente vai ter espaço reservado para sua música. Levo fé nesse garoto — avaliza Zeca Pagodinho, que o chamou para cantar "A voz do meu samba" na gravação do seu DVD "Quintal do Pagodinho", em outubro do ano passado.Começo no Nós do MorroO caminho até o Quintal e o CD de estreia começou há mais de uma década, quando Mumuzinho, que pensava em ser ator, entrou para o grupo de teatro Nós do Morro. Primeiro, fez figuração no filme "Orfeu" (1999). Depois, viveu um dos garotos envolvidos com o tráfico em "Cidade de Deus" (2002), ao lado do hoje famoso Thiago Martins. Em "Tropa de Elite" (2007), entrou em cena para tomar um tiro.— Eu só morria nesses filmes! Mas aí parei com o cinema. Agora estou trabalhando na minissérie "Preamar" (da HBO). Nesta, eu vou até o fim — promete.Mas acontece que, além de atuar, Mumuzinho cantava. A música veio de berço: o pai, o motorista Lenildo Amaro, é cantor gospel. Ligado nos pagodes de Magalhães Bastos, o rapaz se deixou levar pelo samba. Quando se deu conta, estava nas rodas da cidade e cantando aqui e ali, na hora em que os titulares abriam espaço.— Eu sempre cheguei naquela da boa vizinhança, respeitando o momento — conta. — Ficava só prestando atenção. Queria ser igual àqueles artistas no palco.O primeiro sambista a dar espaço a Mumuzinho foi Dudu Nobre, que em 2008 o chamou para ser um dos vocalistas de apoio de sua banda.— Ele é um crooner. Vai bem no samba romântico e no partido-alto, apesar de não ser um partideiro, um improvisador. E canta bem MPB — elogia Dudu, que ajudou o colega na dureza, cedendo-lhe alguns de seus pares de tênis.— Quando ele me perguntou quanto eu calçava, disse de cara: 38, 39, 40, 41, 42... O que tu tiver aí, me dá. Pobre não tem número — brinca Mumuzinho.Mais que tudo, Dudu foi um mentor musical, apresentando-lhe a obra dos grandes do samba.— Comecei a buscar referências, até porque não vivi a época de Noca da Portela, de João Nogueira... Eu era muito novo — diz o cantor, de 28 anos, que, por sugestão de Dudu, foi cantar sambas do repertório de Candeia e dos Demônios da Garoa.A partir de 2007, Mumuzinho ficou conhecido como rei dos shows de abertura (fazia, em média, 25 por mês, esquentando a plateia para atrações como Belo e ExaltaSamba) e assíduo frequentador de pagodes nas casas de José Maurício Machline, Alcione e Regina Casé, a quem foi apresentado por um amigo da época em que fez "Cidade de Deus", o ator Douglas Silva.— Ele traz, em si, a novidade, é o novo Brasil. O Mumu tem tão múltiplos talentos que faria bem um monte de coisas. Por enquanto, manda bem como ator e arrebenta como cantor — elogia Regina, que confiou ao jovem a missão de levar samba e humor (mais ou menos como fazia na TV um certo Mussum) a seu programa de auditório, "Esquenta!".E o que contou muito nessa escolha foi um outro talento do sambista — para imitações. Uma faceta que ele descobriu quando buscava um diferencial para seus shows e uma tia sugeriu que imitasse a cantora Alcione, segundo ela, "porque as mulheres gostam".— Nos meus shows, o Mumuzinho começava com Alcione, ia para Alexandre Pires, para Simoninha e acabava me imitando — conta Dudu Nobre. — Talvez por isso o pessoal tenha demorado a levá-lo a sério como cantor.Cinco músicas estouradasE agora a coisa é realmente séria para Mumuzinho. Com produção de Bruno Cardoso, Sérgio Jr. e Lelê (os responsáveis pelo êxito do grupo de pagode romântico Sorriso Maroto), "Dom de sonhar" chega com cinco sambas já estourados por ele nas rádios: "Te amo", "Curto-circuito", "Mande um sinal", "Calma" e "Se eu tivesse o poder".— Fiz um disco mesclado, que tem um samba mais romântico e outro mais partido-alto — diz Mumuzinho, que só se desvia do roteiro em "O dono do morro", canção com letra de duro realismo, composta por Claudemir (um dos autores de "Ogum", gravada por Zeca Pagodinho).O show de lançamento de "Dom de sonhar" será em setembro. Até lá, Mumuzinho cumpre uma agenda de cerca de 18 apresentações por mês. Típico de quem tem o dom de sonhar, ele já pensa em gravar um DVD.— Aí sim eu vou conseguir expor 100% o que é o Mumuzinho no show — planeja.

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