quinta-feira, 9 de agosto de 2012

DOSE CERTA.


O desavisado que passava pela rua Fidalga, na Vila Madalena, naquela noite fria de garoa paulistana no fim do século XX, jamais poderia imaginar que aquele estabelecimento, que ousava ostentar o nome de Bar Samba, abrigava jovens sambistas de tal qualidade. Eram cinco, quatro de São Paulo e um do Rio de Janeiro, que cultivavam absoluta devoção à música que melhor traduz o que vai na alma do povo brasileiro. 

Eles começavam a carreira com o nome de Dose Certa. Mas como? Quatro paulistas, sambistas? Afinal, para muitos, vale aquela história de que o samba nasceu lá na Bahia e fora dali só se instalou no Rio de Janeiro. Crenças de desavisados! O Dose Certa já sabia que, em solo brasileiro, o bom samba não tem lugar nem hora. É sempre companheiro de madrugadas, com ou sem luas, amigo de peito ferido, mas não seria capaz de abrigar um bojo perfeito de violão, contando aquela velha história da lágrima clara sobre a pele escura, que sem um bocado de tristeza não se faz um samba, não! E a fé no que virá... O Dose Certa veio. E aquele cantinho da metrópole-locomotiva se tornou referência nacional. Quer ver? Lá eu vi juntar-se aos garotos, com a maior admiração e respeito, sambistas como Almir Guineto, Seu Monarco da Portela, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Alcione, Ivan Lins, Leci Brandão, Moacir Luz, Wanderley Monteiro, Nilze Carvalho, Trio Calafrio, Carlinhos Vergueiro e toda a Velha Guarda do Império Serrano, entre outros. Mas sem negar o que há de fundamental nas terras bandeirantes, terra de Geraldo Filme, Adoniram, Vanzolini, Osvaldinho da Cuíca, Quinteto em Branco e Preto, Samba da Vela e muita gente mais. 

São essas as raízes para uma Dose Certa de samba. Alemão do Cavaco veio da Mooca e desembarcou em escola de samba. Ganhou oito sambas em carnavais na Gaviões da Fiel. Um na X-9 paulistana. E visto assim do alto, o samba mais parece um céu no chão... Alemão do Cavaco desembarcou na Estação Primeira de Mangueira e fez bonito: compôs o único samba que levou nota dez de todos os jurados do Carnaval de 2011: Nelson Cavaquinho. Estava abençoado. No Dose Certa, começou ombro a ombro com o diretor de bateria da Mangueira, Vitor da Candelária. Parceiro desde a primeira hora . Não dá para entender o samba, nem o do Dose Certa, nem nenhum outro. Samba é igual a mulher. Mulher a gente não entende, a gente ama! Ou não! Afinal, tem gosto pra tudo. O meu é na Dose Certa. Além do Alemão e do Vitor, tem o J. Petróleo, que compõe, toca banjo e é um vocalista-baixo - bem baixo-, nas funduras de um João Nogueira. Tem o Vinícius Almeida, baixista que se redesenhou virando violonista de sete cordas para preencher a dose que faltava.

 Um consumidor de jazz adepto do samba. E o Wilsinho do Peruche, um percussionista, cuja voz surrada de partideiro nos traz à memória a voz do morro, sim, senhor.O CD, Pra Sempre Samba (fossem gringos seria Samba Forever) é um primor. Não dá para entender. Só amando. E para amar, tem que conhecer. Tem que ouvir. É uma delícia aos ouvidos. Nas composições, parcerias de Alemão do Cavaco e Wilson Sucena; Dona Ivone e João Martins; Moacyr Luz e Sereno; Toninho Geraes e Toninho Nascimento; Trio Calafrio; Mauro Diniz; Efson e Odibar; Adalto Magalha e Wandinho Ribeiro; Adilson Bispo e Zé Roberto; Milbé, Ivison Bezerra e Gerson da Banda; Wanderley Monteiro e Luiz Carlos da Vila; Dona Ivone Lara, André Lara e João Martins; Zé Renato e Nei Lopes; Jonatas Petróleo e Nelson Papa; Wilson Sucena e Wandinho Ribeiro; Riko Dorileo. 

Só tem bamba e inéditas. Cantando junto com Dose Certa, convidados como Ivan Lins, Ana Costa, Wanderley Monteiro, Pedro Miranda, Verônica Ferriani e Leci Brandão. Pra sempre samba, que é vivo e reaparece e se recria sem perder a raiz. Os desavisados poderão se surpreender com o Dose. Eu não! Nem entendo! Amo com meu coração cheio de samba!

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